“Maria³”
Os pesadelos a acordaram antes do toque do despertador, assim como em todas as manhãs nos últimos cinco anos. Assim como todos os dias nos últimos cinco anos realizou com eficácia robótica todos os exercícios do seu treinamento físico, gabaritou sem esforço todos os testes teóricos e respondeu com calma, precisão e logica todos os questionamentos feitos na avaliação psicológica. No entanto hoje as coisas mudariam para sempre. Depois de longos cinco anos finalmente Maria sabia como poderia consertar as coisas, ela não desperdiçaria mais essa chance. Dessa vez ela estaria preparada para tudo. Dessa vez ela faria tudo certo. Dessa vez ela não perderia ninguém.
No fim do dia, voltando ao seu alojamento ela revisa suas anotações, apesar de não ter conseguido evitar o Apocalipse sua conversa com Rodolfo alterou as coisas. A NEO não foi destruída nessa realidade. Mas ao invés de usarem seus alertas para prevenir o Fim do Mundo, os malditos resolveram lucrar com ele. Após neutralizar os cultistas infiltrados na organização a NEO usou os relatos de Maria para conseguir isolar as sedes da companhia ao redor do mundo da influência nefasta do Semeador. Assim se tornaram a última esperança da humanidade e todos que conseguiram escapar do inferno daquele dia tiveram que se render aos termos da NEO se quisessem sobreviver.
Ela nem essa opção teve. Os superiores de Rodolfo ficaram extremamente interessados na existência de uma anomalia temporal como ela, alguns dias antes do Apocalipse enquanto Laila estava na escola, os homens de preto a levaram. Primeiro ela conversou com Melanie, o jeito simpático da senhora de branco a enganou a princípio. Melanie jurou que eles também salvariam Sandro, Antônio, Augusto e Laila. Mentiras. Maria nunca mais viu os amigos. Foi capturada para ser estudada como um espécime raro, a princípio resistiu, mas logo descobriu que isso só piorava as coisas. Uma criança normal teria cedido ao desespero e enlouquecido, mas Maria Paula não era uma criança qualquer aos poucos o desespero deu lugar a uma fria calma. E com a calma veio a clareza. Essa realidade, assim como a sua realidade de origem, estava perdida. Ela precisava tentar de novo. Fingindo ceder a doutrinação da NEO, Maria se submeteu a todos os testes e apesar de não ter apresentado nenhuma característica anormal devido ao seu status de ser de outra linha temporal sua inteligência e comportamento extremamente racional chamaram a atenção de Melanie e seus superiores. Maria começou a ser treinada como uma agente especial da NEO e aproveitando sua posição começou a estudar tudo o que podia sobre a organização, seus propósitos e métodos aprendeu a usar os poderes psíquicos que viu Rodolfo e o maldito professor demonstrarem. Aprendeu sobre Os Antigos. Aprendeu mais sobre Física e todas as teorias que tentavam definir o funcionamento do tempo. E hoje finalmente estava pronta para usar tudo que aprendeu. Iria abrir uma fenda na realidade com magia e voltaria com o conhecimento e o poder necessário para fazer tudo diferente. Sorrindo usou um canivete para cortar o desenho de uma runa na palma de sua mão e usando a lamina ainda suja de sangue gravou outras cinco runas na parede enquanto entoava um cântico ritmado em uma língua morta, sem parar de cantar e sem hesitar espalmou sua mão ao centro do arranjo pentagonal na parede com um grito gutural. Um clarão. Uma rachadura familiar. E ele estava de novo no lugar dos quadrados. Com passos rápidos ela se dirige ao quadrado certo. Já havia revisitado essa memória milhares de vezes. Ao parar no quadrado escolhido os demais se alinharam e as imagens começaram a desacelerar. No momento em que o tempo do grande painel a sua frente parecia correr na mesma velocidade que o tempo que se passava para ela, Maria saltou.
A sua frente uma menina de uns catorze anos brincava com uma criança. Maria se aproximou com cautela e tocou delicadamente o ombro da garota que se virou para ela, quando os olhos de ambas se encontraram, Maria sorriu.
-“Roy, Ana Carolina né?”